MARCELINA EUGENIA DO ROSÁRIO A CURANDEIRA DO CRIAÚ/CURIAÚ
foto extraída do banner familiar. |
Senhora
franzina de voz rouca e baixa, cabeça de cabelos curtos
encaracolados - Inteiramente brancos; brancos como o algodão. Quando
caminhava suas pernas tortas dos pés enrolados para o lado de
dentro, foi assim que eu a conheci, parece que o tempo tinha esquecido dela só percebia a velhice por conta das marcas
do tempo no seu corpo. Ao contrario das pessoas que tenho como
referência, ela não cantava, não tocava tambor, não, nada disso o
seu dom era outro. A curandeira do criaú/curiaú, Amapá Brasil.
Bem
moleque, meu padastro me levava na casa dela - na ocasião tinha
tirado o meu dedão do pé jogando bola. No seu jeitinho, com um
vidro de azeite de andiroba nas mãos, lavem ela, que de frágil não
tinha nada. Pegou o meu dedo com uma força tão grande que se não
fosse estar fora do lugar, tinha saído correndo de lá, assim sem
muitas palavras pôs as mãos no dedo e com uma delicadeza quase nem
sentir quando já estava no lugar.
Dona
marcelina não só colocava as coisa no lugar, como também benzia e
fazia parto, não tenho ideia de quantos dos filhos do “criau”
ela apanhou? essas senhoras chamamos de benzedeiras, pois de tudo
sábia um pouco. Passava o dia sentada na escada de sua casa
acompanhando o crescimento da vila, uma casinha simples localizada na
principal estrada, lado direito de quem chega na rodovia de acesso ao quilombo do criau/curiau; aos poucos
seus filhos, ela teve quatro (4) a construíram de madeira só que de inicio era de buriti
mesmo, se comunicava com as pessoas pelo olhar, de poucas palavras,
raro o dia que se metia a prosear, sempre com um cachimbo na boca,
olhava e via por entre a fumaça, os olhos meios que fechados e umas
coisas que só ela via, sempre com uns gestos como se estivesse
falando com os seres do mundo dela. Essas vozes a guiavam para a
cura.
Tinha
o dom da sabedoria, sobrenatural, mexia com as evas e através do
poder medicinal de cada uma, faleceu em 2014 com mais de 100 anos, na mesma
casa, onde passou a vida ajudando aos outros pelo dom que Deus lhe
deu.
Palavras-chave:
Marcelina Eugenia do Rosário, Práticas de Cura-Memória-História,
curiau, Amapá.
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