Quer saber da minha vida ? pergunta pra mim



Eu não nasci no curiau/criau, mas a minha infância foi andando por entre caminhos que cortava o quilombo. Nas margens ficavam casas de buriti, arvores de mucajá e alguns campos de futebol, passei muitas vezes por cima de dois "mata-burros" (talvez a maioria nem sabe o que é isso), andando nos caminhos das roças. 
nota - Mata-burros são dispositivos que impedem a fuga do gado em propriedades rurais, mesmo quando a porteira está aberta. Mata-burros são estrados que funcionam como pontes, normalmente de madeira, concreto ou aço. no criau tinha quando a estrada era de chão batido, fonte (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mata-burro)
Dessa forma eu mesmo só na observação conheci muita gente que já não estão entre nós, agora um fato engraçado me aconteceu, mesmo que tenha nascido na cidade filho de um legitimo curiauense, minha irmã vai casar com um RAMOS, meu pai Nascimento da Silva, viveu e plantou o seu umbigo no quintal da casa de velha Tiofa (minha vô).

Meu pai, velho Quinino como era conhecido, venceu na cidade no entanto, viveu com minha mãe apenas 5 anos, dessa forma, considero como pai. É agradeço por ele da parte do seu sangue que corre em minhas veias. Lembra que falei que mesmo que quisesse não tinha como fugir dessa raiz? Poise, apareceu na minha vida o velho João Bacaba, velho que fazia de tudo um pouco; plantava roça, caçar, agora o fato que me faz o ter como referência, foi as rodas de batuques, ele tocava amasso, macaquito e como folião de são Joaquim, tocava uma viola que ele mesmo fazia cortada no tesado.

Imagina eu tive o privilegio de ver uma roda de batuque que tinha; velho bacaba, Bolão e um conhecido como Roberto Carlos do curiau, além de tocar pandeiro, amasso, macaquito ainda cantava como ninguém...vale uma nota minha – essas coisa estão vindo como flex na minha cabeça, pois quando vivi isso eu não sabia o valor – hoje eu tenho.

Então, aos poucos fui tomando conta de minha identidade, minhas raízes, coisa que muitos não tem o privilegio que tive, do lado de minha mãe vou e descubro que minha mãe é filha de José Domingos, homem que foi muito respeitado na comunidade quilombola de Ambêr, de la para cá ando em busca dessa identidade não só minha como as dos outros, por isso escreve e vivo intensamente na busca e pesquiso sobre esse (meu) povo.

Esse sou eu, João Ataíde.

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